Quer ser infeliz? Seja obcecado.

Baseado em uma história real.

fev 06, 2025

Quando escrevi minha primeira publicação, ela nasceu de um roteiro que fiz para um vídeo no YouTube. No entanto, não gostei do resultado final, acabei apagando o vídeo e, em vez disso, dFelimiecidi transformar aquele roteiro em texto.

Entre dezembro e o início de janeiro, passei por um crescimento inesperado, e quando digo crescimento, quero dizer algo significativo para alguém que começou sem um plano, sem temas definidos e sem nenhuma expectativa de audiência. Eu só pensava na escrita: ter ideias, consumir conteúdos que faziam sentido para mim e transformá-los em algo interessante. Então, para mim, ter 10 inscritos em 10 dias após o primeiro post foi muito rápido. Porém, isso mudou nas últimas duas semanas de janeiro. E, bom, o resultado foi péssimo. Mas o que mudou?

Eu comecei a ficar obcecada em seguir o que chamo de "dicas certas na hora errada". A pressão para produzir começou a me consumir: passava o dia tentando criar conteúdo, pensando nas quantidades de posts diárias que eu deveria fazer. A galeria do meu celular se encheu de frases e fotos que poderiam ser usadas, mas, no fundo, deixou de ser sobre aprender e compartilhar algo que realmente fazia sentido para mim. E passou a ser sobre números.

Isso me levou a checar minhas notificações o tempo todo. O ciclo foi curto, mas intenso — e, graças a Deus, durou pouco 😂. Mas o suficiente para me deixar exausta e me fazer desaparecer por alguns dias. O que parecia ser um movimento de produtividade1, o que já seria um erro, virou uma armadilha de estafa.

Produza conteúdo para você e não para o outro

Quando comecei a produzir conteúdo, minha intenção não era apenas criar algo para os outros consumirem. Era uma maneira de me manter estudando, mas de uma forma que não fosse forçada. Eu estava estudando sobre o que realmente me interessava, e isso fez toda a diferença.

Tornar esse processo um hábito prazeroso tornou até as partes mais chatas, como estudar para uma matéria na faculdade que não tinha muita afinidade, mais tolerável. A chave era não criar por obrigação, mas por prazer em aprender e compartilhar aquilo que fazia sentido para mim.

Quando comecei a me preocupar em produzir conteúdo apenas para os outros, a essência do que eu queria compartilhar se perdeu. Deixei de me preocupar em trazer algo interessante e comecei a focar apenas em engajamento e curtidas. E o resultado?

"As expectativa adiada adoece o coração."

No final, as minhas expectativas criaram um ciclo de estresse que sufocava qualquer ideia que eu tivesse. Se você criar conteúdo pensando em seu próprio progresso, alinhado aos seus interesses, ao invés de tentar agradar os outros, você vai produzir algo mais genuíno.

Todo hobby ou meta deve estar em sintonia com a sua vida, não o contrário. E quando você faz isso, pode ter certeza: o conteúdo flui, mesmo sem a necessidade de uma "ideia épica".

A sua meta faz parte da sua vida não ao contrário

Quando começamos um novo hobby ou projeto, seja profissional ou pessoal, muitas vezes acreditamos que precisamos de intensidade para causar uma mudança. Mas, na verdade, a chave está em aprender a substituir as coisas certas, não em adicionar mais tarefas à nossa vida. Sabe qual é o maior problema que enfrentamos?

Não é falta de disciplina;
Não é medo do fracasso;
Não é preguiça.

"A maior dificuldade do ser humano é viver em equilíbrio."

— A Essencialista

Se você trabalha 8 horas por dia, enfrenta o transporte público e responsabilidades que não pode delegar, a última coisa que precisa é adicionar mais duas horas de treino à sua rotina. Isso não é preguiça, é a realidade. O segredo é substituir, não acrescentar. Essa é a "via negativa", a arte de remover o que não é essencial para criar espaço para o que realmente importa.

Mas isso não é uma regra absoluta. Algumas pessoas são obcecadas e, com isso, conseguem conquistar seus sonhos. Porém, se você, assim como eu, está cansado dessa rotina e o seu sonho não é viver em um bom apartamento, comer em bons restaurantes ou proporcionar isso para quem ama, mas em troca trabalhar 12 horas diárias, então esse conselho é para você.

Se você quer ser obcecado, descubra qual é o preço a pagar e pergunte-se se está disposto a perder isso.

A obsessão pode destruir mais do que construir. Para cada história de sucesso que vemos na internet, há uma infinidade de ~~fracassos~~ que ficam ~~invisíveis~~. E quando digo infinidade, quero dizer infinidade. O triste é que só percebi isso quando quase desistir do que é importante para mim e passei por cima até da minha visão de vida.

Não é fácil sair, mas pior ainda é quando você não percebe. Vou te dar um exemplo: quando eu era pequena e jogava Xbox ou jogos no computador, eu só vencia quando o objetivo de ganhar não era o meu foco.

Quando o foco passava a ser simplesmente "ganhar", a coisa mais importante se tornava o resultado e não o jogo em si. E sabe o que acontecia? Eu, coincidentemente, sempre perdia 😂. Já aconteceu com você?

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Quando isso acontecia, eu levava muito tempo para perceber e tinha dificuldade de sair desse ciclo. Na maioria das vezes, eu precisava trocar de jogo ou simplesmente parar de jogar para conseguir voltar aos trilhos 😂.

Minha mãe tá certa eu sou não todo mundo

Recentemente, vi uma pessoa falando sobre a obsessão necessária para alcançar algo que só agora estava compartilhando. Antes, eu ficaria impressionada com tanto foco, mas hoje, depois da minha experiência, não quero isso nem de graça. Não é pessimismo, mas essa situação me fez refletir sobre algo que aconteceu comigo recentemente enquanto aplicava para algumas vagas de estágio.

Comecei a aplicar para vagas ainda no primeiro semestre, esperando que alguém me chamasse. Mas quando a pressão financeira aumentou, aquilo deixou de ser um simples "quem sabe?" e virou um "preciso urgentemente". Mesmo sendo algo motivado por uma situação externa, me vi obcecada com isso, e a pressão me desgastou.

Quando parei de focar em uma solução imediata, tudo começou a se resolver naturalmente. Não foi um milagre, mas a preocupação constante simplesmente não ajudava. E o mesmo aconteceu quando voltei a produzir conteúdo focado em mim, não no outro.

O que me veio à mente foi: e se eu tivesse visto esse story no período em que estava obcecada? Talvez isso tivesse me levado a um comportamento prejudicial, me fazendo acreditar que precisava da mesma intensidade, sem perceber que aquilo não era a minha realidade. Minha mãe tinha razão eu não todo mundo e você também não.

Eu reclamo, mas eu resolvo

Se você se identificou com isso, aqui está o que me ajudou a lidar com essas duas obsessões que surgiram praticamente ao mesmo tempo.

"O problema é fácil de identificar, o difícil é encontrar a solução."

Primeiro, comecei a praticar o pensamento consciente. Toda vez que eu pensava em pesquisar oportunidades, eu redirecionava minha atenção e deixava para fazer isso algumas poucas vezes na semana.
Por alguns dias, entrei no Substack apenas uma vez ao dia. Nesse momento, eu via as notificações e respondia as mensagens.

Basicamente, procurei aplicar a Lei do Desapego. Para ser sincera, só me lembrei dela enquanto escrevia esta newsletter 😂, mas, de qualquer forma, essa rotina me fez, pouco a pouco, perder o interesse em ambas as coisas. Garanto que funciona 😊.

Vivendo sem expectativas

Se a ideia é evitar desistir de algo, você precisa ir além de não se tornar obcecado por aquilo e ter um porquê2. Trate suas metas como uma ideia. Claro, isso não é uma regra absoluta, mas, em geral, ideias são mais fáceis de aplicar do que planos rigorosos.

Um estudo feito em 1998 por Wolfram Schultz, Dopamine, Incentive Learning, and the Representation of Future Rewards, demonstrou que a dopamina não é apenas liberada na recompensa em si, mas principalmente na antecipação da recompensa.

Ou seja, planejar ou imaginar um objetivo pode gerar uma sensação prazerosa, mas também pode levar à procrastinação se não houver ação real. Esse é, inclusive, um dos motivos pelos quais você não deveria contar a outros sobre seus planos, pois a chance de concretizá-los é menor. Por isso, você precisa aprender a viver com a expectativa 0. Vou te dar um exemplo:

Em janeiro, comecei a estudar espanhol. Meu objetivo? Apenas parar de legendar vídeos de inglês para português. Nunca achei que isso agregava muito, mas também não sabia como me livrar disso. Decidi testar.

Isso me animou a continuar aprendendo. No último domingo (2), tive a oportunidade de ir a um evento em espanhol, onde passei cinco horas ouvindo palestrantes. Não tinha expectativas de ter esse tipo de imersão no idioma, mas a experiência foi muito melhor do que eu imaginava. Além do idioma, conheci pessoas e lugares novos. E isso não aconteceu por causa de planos rigorosos, mas porque minhas ideias deram certo.

E foi assim que eu também alcancei as metas do último ano, sem planejamento3. No primeiro quadro, foi o que eu fiz; no segundo, é o que a maioria faria. Veja:

Viu a diferença? Planos parecem ótimos até você tentar executá-los. É claro que eles são importantes, mas quantas vezes você não passou um tempo planejando uma meta e nem pensou nela novamente depois disso? Ideias são mais simples, menos frustrantes e mais recompensadoras.

Por quê? Porque é assim que o seu cérebro funciona. Ele odeia desperdiçar tempo, então, se você passa horas pensando em algo, ele passa a ver isso como importante. Ele trabalha por recompensa. Então, se você gastou horas nisso e deu errado, a conta não fecha. Esse é o risco de estar obcecado por algo.

No longo prazo, a obsessão te condena, não te liberta. Para a grande maioria, seus riscos são altos, ainda que com recompensas proporcionais a isso (ou não). Para mim, não vale a pena, mas essa pergunta só você pode responder.

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